Aumenta o uso de remédios improvisados para emagrecer
Após a proibição dos emagrecedores, cresce até 41% a venda de remédios que até emagrecem, mas que foram produzidos para outras doenças, como diabetes e depressão.
As drogas foram elaboradas para tratar convulsão,
diabetes e depressão . O uso crescente das substâncias, no
entanto, sugere que os medicamentos têm sido utilizados de forma improvisada
para emagrecer.
Em menos de um ano, as vendas de três remédios produzidos para tratar
pacientes com problemas neurológicos (bupropiona), diabéticos (victoza) e
depressivos (topiramato) cresceram até 41,5%, mostra levantamento feito pelo
Sindicato das Farmácias de São Paulo (Sindusfarma).
O aumento acontece a partir de outubro de 2011 e coincide com a proibição,
por parte do governo federal, da venda dos emagrecedores e com a restrição
severa à comercialização da sibutramina, até então a droga mais utilizada para
perder peso.
Apesar de terem sido desenvolvidos para outros fins, há indícios de que estes
três medicamentos provocam redução do peso como um efeito colateral. O receio
dos especialistas, no entanto, é de que a utilização dos remédios adaptados ao
emagrecimento – uma prática chamada de ‘off label’ (expressão para definir o uso
fora da bula) – ocorre sem o respaldo científico sobre a segurança dos pacientes
que têm apenas obesidade.
A decisão da restrição dos emagrecedores partiu da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) após constatar o uso indiscriminado das
substâncias emagrecedoras. Em 2010, a agência fez um levantamento, por meio do
Sistema Nacional e Gerenciamento de Produtos Controlados, que compilou dados de
farmácias e drogarias de todo o País.
Foram avaliadas seis drogas ligadas ao emagrecimento e, na época, a
constatação foi de que em um ano o Brasil consumiu seis toneladas destes
medicamentos, uma média de 16 quilos por dia (55% do consumo mundial).
Após dois anos de discussão, foi decidida a proibição de três inibidores de
apetite (anfepramona, femproporex e mazindol) e maior controle dos derivados de
sibutramina.
A medida restritiva provocou revolta entre parte dos médicos prescritores dos
medicamentos. A presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade,
Rosana Bento Radominski, afirmou em comunicado que “a intenção de proteger a
população dos efeitos adversos dos remédios anorexígenos deixou órfãos os
pacientes que realmente se beneficiam deles”.
“O arsenal terapêutico para tratar uma doença como a obesidade ficou muito
restrito, com só duas drogas possíveis”, lamenta a endocrinologista da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia, Cláudia Chang.
“Com isso, a prescrição off label ganhou fôlego. Não é uma prática errada ou
condenada, mas precisa de monitoramento intenso por parte dos médicos”,
complementa Cláudia que também é professora da Universidade Estadual de São
Paulo (Unesp).
“A cautela é porque um dos remédios que tem sido usado, o elaborado para
tratar o diabetes, não precisa de receita médica para ser vendido." Isso pode
deixar margem para o uso abusivo por parte dos pacientes, sem indicação médica e
resulta em consumo inadequado.
Droga nenhuma
Além da Abeso, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia (Sbem) também
manifestou posição contrária às normas da Anvisa. Já o professor da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto (USP), José Ernesto dos Santos, concorda com a
medida.
“Um dia vamos ter um remédio eficiente para o controle da obesidade, mas
atualmente nenhuma droga funciona”, avalia. “Em todos os casos, os prejuízos
acarretados pelos efeitos colaterais superam os benefícios. Não valem o risco”,
afirma.
A obesidade aumenta ano a ano no País, conforme os indicadores do Ministério
da Saúde. Nos últimos seis anos, 11 milhões de pessoas entraram para o grupo de
obesos mórbidos do País e os 15,8% de obesos registrados no ano passado são um
recorde histórico.
Mas a régua que mede a dependência química também alerta para os medicamentos
usados de maneira tóxica. Pesquisa da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad)
pesquisou 18 mil universitários e mostrou que, entre as mulheres, o vício em
emagrecedores, tranquilizantes e antidepressivos somou 3,6% e supera a
dependência de crack e cocaína (0,1%).
A especialista Cláudia Chang defende o uso de medicações para no processo de
perder peso, mas diz que só a mudança de comportamento é solução definitiva. “A
mudança de hábito é essencial e a comparo com uma grande escada que o obeso
precisa subir. Os remédios funcionam apenas como um corrimão.”
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