Falta de mão de obra especializada coloca em xeque benefícios trazidos pela prática e pode agravar dores. Saiba evitar problemas
Fernanda Aranda, iG São Paulo | 08/03/2012 12:16
Bastam 120 horas (divididas em finais de semana), um investimento de R$ 2 mil, uma plaquinha e uma sala de aula para qualquer pessoa virar instrutor de pilates.
Pelas normas atuais, os aparatos descritos acima são o suficiente para ganhar o título de especialista e oferecer exercícios físicos intensos, com potencial de lesões sérias, para idosos, gestantes, crianças e adultos.
O pilates ganhou popularidade no Brasil e os estúdios tomaram conta das cidades. Fisioterapeutas, educadores físicos, terapeutas ocupacionais e bailarinos são os profissionais que mais ocupam o cargo de professor da modalidade e os mais indicados para função, desde que façam treinamentos específicos.
“Mas não há diretrizes que norteiem a formação, como conteúdo programático ou carga-horária”, afirma o coordenador da Associação Brasileira de Pilates (ABP), Eduardo Freitas da Rosa.
“Em consequência disso, existem profissionais sem condições mínimas para atuar ou ministrar cursos sobre o método”, complementa.
“Pilates é um curso livre, não há exigência de diploma não”, respondeu a atendente de uma entidades que oferece capacitação da técnica, após a reportagem do iG Saúde perguntar se poderia participar da próxima turma que forma professores sem ter diploma em nenhuma área.
“São R$ 2 mil reais, pagos em até 10 vezes. O curso tem 120 horas e mais um estágio de 30 horas que você pode fazer na nossa unidade mesmo, com nossos matriculados”, explicou a moça ao telefone.
É verdade que, no contato com outros 8 estúdios que oferecem curso de professor de pilates (três em São Paulo, dois no Rio Grande do Sul, um na Bahia e outro em Florianópolis), só mais um aceitou a não formação prévia em universidades que ensinam noções de anatomia ou fisiologia.
O restante disse que as aulas eram voltadas apenas para fisioterapeutas e professores de educação física. Mas mesmo quem já cumpriu a graduação, pode “se especializar” em “pilates para idosos” ou “pilates para gestantes”, por exemplo, após cumprir apenas 16 horas de treinamento.
“É muito sério isso que está acontecendo”, lamenta a educadora física Cristina Abrami, diretora técnica do CGPA Pilates e uma das profissionais que batalha para a regulamentação da prática e o aumento da fiscalização.
“Hoje, se você colocar uma plaquinha na porta da sua casa oferecendo as aulas, no dia seguinte terá três alunos matriculados. Muitas academias oferecem o método em classes com mais de 10 alunos, sendo que a prática deve ser o mais personalizada possível”, diz.
“Entregamos nosso corpo, a nossa saúde nas mãos de pessoas que podem ter feito apenas um workshop ou visto um DVD sobre pilates”, alerta Cristina Abrami.
Neste contexto de mão de obra não regulamentada e capacitada para as aulas, a agravante é o perfil dos alunos. Nos últimos anos, pesquisas pipocaram enaltecendo o pilates como “remédio” para problemas crônicos, como dores intensas, osteoporose e outras alterações musculares e esqueléticas.
De fato, explica o ortopedista especializado em coluna do Hospital das Clínicas de São Paulo, Raphael Marcon, o método é excelente para a reabilitação e também para o condicionamento físico, com já evidências científicas confirmadas.
Isso indica que quando chegam às aulas, muitos praticantes já estão lesionados, com problemas de saúde e querendo amenizar os sintomas doloridos. O problema é quando o que era para ser remédio acaba como veneno. Segundo Marcon, o que ocorre é o caminho inverso.
“Os pacientes vão para as aulas de pilates para recuperar da dor, mas acabam voltando com mais dor ainda”, afirma o especialista.
O presidente da Sociedade Brasileira de Coluna, Luis Eduardo Munhoz da Rocha, acrescenta que os exercícios de pilates fortalecem a região da lombar, mas podem exigir muito de uma estrutura já comprometida.
“Os discos existentes entre as vértebras podem já estar desgastados devido ao próprio estilo de vida (postura inadequada, genética e até obesidade)”.
“Quando o pilates é ministrado por quem tem conhecimento, o limite individual de cada praticante é mais respeitado. Seja para a reabilitação, seja para o emagrecimento ou para o condicionamento físico.”
A seguir, os especialistas ouvidos pela reportagem dão dicas para o pilates não fazer mal à saúde
- Desconfie das aulas de pilates oferecidas para mais de três alunos. Por ser muito específico, o curso deve abrigar no máximo três participantes
- Solicite a formação do instrutor. Se o objetivo for reabilitação física o ideal é procurar um fisioterapeuta. Caso o interesse seja esporte, procure um educador físico. Ambos devem ter certificado e capacitação em pilates em cursos com mais de 340 horas
- Passe por um médico antes caso o ponto de partida para a procura do pilates seja uma dor. Os médicos afirmam que o sintoma dolorido é o principal alerta de que algo no corpo não está bem. Pilates serve como coadjuvante no tratamento e não como medicação
- Peça a licença do estúdio. Os órgãos de classe (ou conselho federal de educação física ou conselho de fisioterapia) precisam autorizar o funcionamento da unidade
- Não utilize como único critério de seleção da escola o preço da mensalidade. Não é porque o curso é caro demais ou muito barato que os instrutores são gabaritados
- Se estiver grávida (ou ficar grávida durante o curso) pergunte ao seu médico se há alguma restrição ao pilates e siga o que ele indicar. Em alguns casos, a atividade pode colocar em risco a gestação
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